domingo, 22 de maio de 2011

O MEDO DA DOR!

Eu a cada dia acredito mais que o maior medo do ser humano, depois do medo da morte, é o medo da dor. Dor física: um corte, uma picada, uma ardência, uma distenção, uma fratura, uma cárie. Dor que só cessa com analgésicos e antinflamatorios, no caso de ser uma dor comum, ou com morfina, quando é uma dor insuportável. Mas é a dor emocional a mais temível, porque essa não tem medicamento que dê jeito, e digo isso por experiência propria porque estou passando por isso nesses ultimos anos, e como esta demorando a passar!

Uma vez, conversando com uma amiga, ficamos nessa discussão por horas: o que é mais dolorido, ter o braço quebrado ou o coração? Uma pessoa que foi rejeitada pelo seu amor, ou perdeu um ente querido sofre menos ou mais do que quem levou alguns pontos depois de uma queda? São dores absolutamente diferentes....eu acho que dói mais a dor emocional, aquela que sangra por dentro, que rasga e nos consome dia apos dia. Qualquer mãe preferiria ter úlcera para o resto da vida do que conviver com o vazio causado pela morte de um filho.

As estatísticas hoje não mentem, e eu infelizmente faço parte dela: é mais fácil ser atingida por uma depressão, do que por uma bala perdida. Existe médico para baixo astral? Psicanalistas. E remédio? Anti-depressivos. Funcionam? Funcionam, mas não com a rapidez de uma injeção que tomo quando a coluna ataca, não com a eficiência de uma cirurgia, como as varias que já fiz. Certas feridas não ficam à mostra. Acabar com a dor da baixa-estima é bem mais demorado do que acabar com uma dor localizada, e o pior é que ninguem nos entende e muito menos nos aceita.

Parece absurdo que alguém possa sofrer num dia de céu azul, na beira do mar, numa festa, num bar. Parece exagero dizer que alguém que leve uma pancada na cabeça sofrerá menos do que alguém que for demitido. Onde está o hematoma causado pelo desemprego, onde está a cicatriz da fome, onde está o gesso imobilizando a dor de um preconceito? Custamos a respeitar as dores invisíveis, para as quais não existem prontos-socorros. Não adianta assoprar que não passa.

Tenho um respeito tremendo por quem sofre em silêncio, principalmente pelos que sofrem por amor ou perdas irreparaveis. Perder a companhia de quem se ama pode ser uma mutilação tão séria quanto a sofrida por quem perde um braço ou uma perna, só que os outros não enxergam a parte que nos falta, e por isso tendem a menosprezar nosso martírio. O próprio tetraplegico terá sua dor emocional prolongada por algum tempo, diante da nova realidade que enfrenta. Nenhuma fisgada se compara à dor de um destino alterado para sempre!

Passei a minha vida inteira ouvindo que nada é para sempre...e que há sempre o momento de pedir ajuda, de se abrir e de tentar sair do buraco. Mas, antes, é imprescindível passar por uma certa reclusão. Fechar-se em si, reconhecer a dor e aprender com ela, enfrentá-la sem atuações, deixar ela escapar pelo nariz, pelos olhos, deixar ela vazar pelo corpo todo, sem pudores. Assim como protegemos nossa felicidade, temos também que proteger nossa infelicidade.
Não há nada mais desgastante do que uma alegria forçada, e disfarçar a dor é dor ainda maior, por isso optei pela reclusão. Pra que subir ao palco se não estou feliz??

Acho até que ela já virou minha companheira. Olhando de perto, alguns momentos percebo que ela ate já deixou de doer, só tem fama, mas não consigo dela me soltar. Quem sabe, pelo receio de não saber o que fazer com o espaço, às vezes grande, que ficará desocupado se ela sair de cena. Vazio é também terreno fértil para novos florescimentos, mas costuma causar um medo inacreditável.
Quando criar coragem vou deixar de dar casa, comida e roupa lavada para essa tal dor, e assim quem sabe ela desaparecerá.

Vai passar, só isso eu sei!


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